julho 23, 2005

The Lurker: Diário de uma Terra Estranha - Caderno V: Porque? Achou que era só Sartre que perdia os livros por aí?

Dos dias de Philli levo as melhores referências do Franklin Institute (com uma interessantíssima exposição sobre o Titanic, apresentando diversos objetos resgatados do naufrágio e um "autêntico" pêndulo de Foucault) e do City Tavern, restaurante onde tudo é feito como em 1773 (mas, infelizmente, o bordeaux é 2001). Segundo o proprietário, eles fazem tudo, do pão aos vegetais, da maneira que era feita quando a cidade era pouco mais que um porto comercial. Este último realmente vale a pena, mas é também uma prova de que a culinária americana é uma droga desde o século XVIII - a carne só tem gosto se você jogar um molho (algo meio cajun, meio barbecue) em cima. O vinho fechou bem, mas não era californiano e sim francês. Enfim, recomendo mas aviso que o preço é um negócio meio assustador (US$ 90,00 com o dólar a R$ 3,20 - make your math). A companhia de Robin e Lois foi bastante interessante. Discutir pontos de vista de feministas estadunidenses a partir de uma perspectiva sul-americana foi, no mínimo, desafiador. That is not to be understood as a chauvinistic remark.

Na manhã seguinte, não surpreendentemente, quase que perco a hora! De meu simpático quarto, que dava visada direta para o relógio do city hall (foto), já vou perdendo meu vôo. Aliás, este defeito de imaginar horas estranhas para os aviões me acompanha a tempos e, desta vez, botei na cabeça que o vôo das 6h45 era pelo meio dia. Típico. Felizmente o fuso horário fez com que eu acordasse mais de uma hora antes e a ficha caísse. Contudo, de nada adiantou a correria e a pressa do taxista na direção do Philli 'international' porque tivemos que ficar esperando mais de 30 minutos pela imbecil da aeromoça que seria responsável pelo vôo. Sim, o avião não decola sem a figura e não, nem tudo nos EUA funciona como deveria ou sai no horário, como pensamos em Pindorama. De mais a mais, a tal criatura pediu para ser desagradável e entrou duas vezes na fila.

Fui conversando com um ex-comissário de bordo da Pan-Am que se cansou de seus compatriotas e mudou-se para o Canadá (todos os comissários tem que ser, digamos, afetados?). Dizia ter morado 'com seu namorado' no Rio de Janeiro e o papo agradável compensou a estupidez da American Airways. Aliás, eu queira enforcar quem me arranjou um vôo Philli-Washington-NYC. Nota mental: next time, take the train.

Os americanos sempre foram meio neuróticos, mas depois que viram dois aviões a baixa altitude no meio de NYC ficaram piores. Então, você tem que ficar sentado em sua cadeira a contar de 30 minutos da aterrissagem em Washington (e da decolagem, também, claro). É isso aí: melhor não ter dor de barriga, porque, segundo eles, 'se alguém levantar o avião volta'. Não sei para que tanta onda: o dia estava um lixo e a idéia de ficar rodando em cima da capital não agradava ninguém mesmo - talvez eu devesse ter ligado para o Soma, que pelo menos me faria companhia. Paciência - deixemos Washington de lado, que não é, no fim das contas o objetivo maior desta narrativa.

Enfim, Nova Iorque. O John Kennedy International nunca vai conseguir ser um aeroporto agradável. A chegada na 'capital do mundo' tem sempre um quê de rodoviária de São Paulo e nunca, nunca mesmo, está sem uma reforma. Quem faz reforma no meio do inverno, a dois graus centígrados negativos, meu Cristo? Se fosse em Lisboa eu entendia. Neste ponto cabe uma nota de esclarecimento. Já entrei em NYC de quase tudo que é jeito: de van, ônibus de excursão (yuck!), táxi, Lincoln Town Car, etc. Desta vez ia ser de busão mesmo (um tal de ônibus expresso) e tratei logo de procurar minhas melhoras (a US$ 15,00). Desta vez, também por escolha, fui sem reserva de hotel ou lugar para ficar, bem ao estilo 'vamos ver o que rola'. A foto ao lado é de uma instalação de Christo e sua esposa Jeanne-Claude (The Gates) realizada no Central Park.

No fim das contas, foi uma opção 'econômica' e os efeitos satisfatórios, apesar de ter que ficar esperando o ônibus no frio e de acabar crashing em um hotel já conhecido, que tem como principal atrativo ficar do lado do Majestic. Acho que o motivo principal da escolha foi ter andado dez quarteirões puxando minha mala e que a paciência com o frio já ia se esgotando - se bem que acabei por descobrir um canto que merecerá novos estudos (hotéis históricos - 44 com alguma coisa acima da Lexington). Com minha veia judia acesa, consegui um bom negócio de tarifa balcão e um quarto bem decente, com vista para, ora, vista para o nada... para a outra ala do hotel. Se bem que, se você se debruçace na janela, via um pedaço da Broadway. Só que as janelas são lacradas no inverno... O importante é que, finalmente, estava instalado e pronto para as novas aventuras da cidade que nunca dorme.

The Lurker says: Freedom is what you do with what's been done to you. (Jean-Paul Sartre)

A seguir o caderno VI (It´s up to you, Manhattan)